A
xícara estava a minha frente já faziam no mínimo 15 minutos, mas o chá
continuava absurdamente quente, e com o siso dando sinal de que iria nascer eu
querendo ou não, a última coisa que eu precisava era de algo tão quente sobre a
gengiva já inflamada. Enquanto olhava a fumaça sair pacientemente da xícara o
celular tocava músicas no modo aleatório, até que começou a primeira música que
me lembrou você, na mesma hora pulei a faixa. Algumas músicas depois outra
música acompanhada de lembranças, porém não eram suas, eram dele, mais uma vez
passei a para próxima, quando a terceira “música memória” tocou decidi que
estava na hora de ouvi-las, afinal são só músicas, não é mesmo?
Errado.
Cada música tem uma carga de lembranças gigantesca, mas parei e analisei cada
uma das faixas que até então havia pulado, por me lembrarem de pessoas que
partiram, por ter certeza que ao ouvi-las ficaria mal, sem animo, entraria na
minha “pseudo depressão” de uma noite, na qual ficaria remoendo por que pessoas
e momentos passaram e não voltam mais. Mas comecei a recordar em quais momentos
essas músicas apareceram, comecei a lembrar que elas eram músicas especiais por
terem feito parte de bons momentos. Por estarem presentes em ocasiões as quais
eu desejei que nunca tivessem fim. Então, já esquecendo do chá, peguei o
celular e montei uma seleção, apenas com essas músicas que me trazem
lembranças, e comecei a escrever em cada música o que ela me lembrava, nunca me
senti tão aliviado.
Quando
me dei conta, haviam menos músicas do que eu julgava que houvessem. Mas o que
me chamou a atenção é que a maioria das músicas não me lembravam momentos, mas
sim pessoas, pessoas essas que fazem muita falta pra mim, tanta falta que o
fato de ouvir uma música me fazia chorar por ter perdido elas em meu convívio.
Mas ai lembro de como essas músicas me ligavam a essas pessoas, e todas elas
eram em momentos incríveis. Se você fez parte da minha vida, e temos ‘a nossa
música’, quero te agradecer. Mesmo que hoje não fales mais comigo, mesmo que
hoje me odeia, não queira me ver “nem pintado de ouro”, obrigado. Hoje ao ouvir
a nossa música consigo lembrar de tudo de bom que passamos juntos. Não irei
mais chorar ao ouvir “Eu amei te ver”, não irei mais ficar deprimido ao ouvir
“Fred Astaire”. Não terei desilusões com você que está longe ao ouvir
“Photograph”, não terei surtos de raiva de alguém ao ouvir “Bloodstream”, não
entrarei em desespero por perder alguém ao ouvir “Mirrors”. Terei sempre na
memória os momentos bons que vocês e essas músicas me trazem.
Quando
me dou conta o chá já está gelado, mas tudo bem, troquei uma xícara de chá por
uma xícara de memórias. E se você está em minha vida agora, por favor, vamos
achar nossa música, não para que possa lembrar de momentos que tivemos juntos
no futuro, mas para que eu possa assim eternizar você em minha vida, como fiz
com todos os outros. E por favor não ache que essas pessoas passaram pela minha
vida sem importância, que eu tenho “a long list of ex-lovers”, saibam que eu
posso ter dito muita coisa que não foi verdadeira, mas NUNCA eu disse nem direi
um “eu te amo” que não seja verdade. Cada um teve seu devido momento, cada um
teve sua devida importância, e sou grato a todos. Se um dia voltarmos a nos
ver, a conversar, por favor aceite pelo menos o meu – muito obrigado -.
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