Já passava das duas da madrugada o
café ainda fumegava na mesa, logo ao lado um exemplar já surrado de Caio F.
Abreu, o qual foi lido muitas e muitas vezes. Cada uma delas dando uma nova
motivação para ler... escrever... para dar vida e continuidade a beleza que é a
literatura. Eu estava sem muitas ideias nos últimos dias, o caderninho a minha
frente, estava com algumas anotações rabiscadas, vários começos de histórias
abandonadas. Pensei em fazer um apanhado de todos aqueles inicios e montar uma
história só, mas não fazia sentido pra mim. E se tem uma coisa que eu me recuso
é escrever sem um sentido, sem um motivo. Segurei o caderninho em uma mão e dei
um gole no café, nesse mesmo instante vejo o nome “dele” no canto de uma das
páginas, não sei ao certo qual foi minha reação. Apenas soltei a xicara na mesa
e fiquei ali, parado, encarando aquele nome no canto da página por um bom
tempo.
Depois de me recuperar do transe num
simples nome, me veio à mente todas as memórias que eu tinha, todas as palavras
não ditas, todas as chances que deixei passar. A pessoa que eu tanto amei e que
nunca foi meu, toda vez que o via ou lembrava do mesmo, era como se alguém me
desse um tiro, não na cara, nem no peito, mas na alma, lembrar de algo que
nunca foi meu me corroía de tal modo que naquela noite eu larguei o caderno,
larguei o café, larguei Caio Fernando Abreu e chorei, chorei não por ele, nem
por mim, mas pela situação em que me encontrava. Eu estava sofrendo por alguém
que nunca foi meu, talvez faça sentido algum dia, mas, naquela noite eu não
conseguia parar de pensar em como eu estava sendo idiota. Passado mais ou menos
uma hora estava me recompondo, afinal eu não sou de sofrer mais do que uma hora
por nada, cinco planetas em áries fazem isso comigo. Decidi naquele momento que
não sofreria mais por ele, que aquela foi a última vez que lágrimas escorreram
em sua homenagem.
Mal sabia eu que um sentimento como
esse não se esquece, uma vez um amigo me disse “Querido, coisas como essa não
passam, você quem decide como vai trata-las: Se vai brigar e sofrer por elas ou
se vai convida-las pra entrar, tomar um café e conviver”, ele era pisciano é
óbvio, para ter esses devaneios de poesia em meio ao sofrimento da vida. Peguei
essas palavras e guardei pra mim, e naquele momento vi que aquilo (o
sentimento) continuava doendo aqui dentro, e de nada adiantaria eu dizer que
iria lutar contra, por que era como esse mesmo amigo me disse “Amigo, não
alimenta ódio e luta contra isso, abraça e cuida, uma decepção cuidada é uma
decepção controlada”. Não entendi o que ele quis dizer com isso, para mim era
muito mais fácil mandar tudo pelos ares, xingar, esbravejar, arrumar confusão,
tratar as coisas com carinho era apenas pra quem merece, e para coisas boas,
não fazia sentido abraçar algo que não me faz bem.
Com o tempo aprendi a abraçar minha
própria decepção, no começo era como abraçar uma roseira cheia de espinhos,
doía (e não era pouco), mas a cada vez a dor se tornou menor, hoje posso dizer
que somos amigos, sim sou amigo da minha decepção, sou amigo da minha dor. Volte
e meia ela passa aqui, tomamos um café e jogamos conversa fora, então ela vai
embora e a vida segue, por que afinal eu entendi que uma decepção abraçada é
uma decepção controlada.
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