Ele
estava sentado, mexendo no celular, provavelmente conversando com alguma outra
pessoa que não fazia ideia da minha existência tanto quanto ele. Mais uma vez
ele me fez suspirar, quando o cabelo ruivo cai sobre seus olhos, e com um
movimento que parecia ensaiado inúmeras vezes em frente ao espelho, retira
deixando a mostra mais uma vez seus olhos verdes.
Pego
meus materiais no armário e saio, mais uma vez despercebido, mais uma vez
invisível, chegando no auditório sento na cadeira mais escondida possível, puxo
meu exemplar de ‘Romeu e Julieta’ da mochila e continuo lendo, relendo na
verdade, perdi as contas de quantas vezes já o li, não tenho um motivo para ter
lido tantas vezes, talvez o amor impossível, me identifico, não da mesma
maneira retratada na história, mas ainda assim me identifico.
Estou
concentrado no livro quando passos ecoando na entrada me dispersam do livro,
logo me vem o pensamento na cabeça de quem seria, ninguém entrava no auditório,
não por vontade própria pelo menos. Quando finalmente consegui ver quem era não
acreditava, seu cabelo estava mais ruivo do que nunca. Ele foi direto até o
palco, tirou um papel do bolso, leu em voz baixa e logo em seguida começou a
recitar uma poesia. Não me pareceu familiar, era de autoria dele, prestei
atenção em cada palavra que saia de sua boca.
Quando
ele terminou, desceu do palco e veio em minha direção, tenho certeza que a cor
do meu rosto passou de branco para vermelho pimenta no mesmo instante. Ele
sentou ao meu lado e pediu se eu havia gostado da poesia. Meio sem reação disse
que achei incrível, que ele era talentoso, tanto na hora de escrever quanto na
hora de recitar. Ele sorriu, dessa vez olhando diretamente pra mim, ELE SORRIU
PRA MIM. Sem saber o que fazer, tentei me fazer de desentendido, perguntei de
onde ele me conhecia, ele apenas pediu que o seguisse que ele iria me mostrar.
Chegamos
no pátio do campus, mais precisamente na árvore onde eu passei dias e dias com
meu violão. Ele sentou exatamente onde eu costumava sentar, olhou para mim e
disse que me conhecia daqui, que me viu tocar as músicas mais tristes e
depressivas que ele já tinha ouvido, mas que gostou de cada acorde que saia do
violão. Não consegui acreditar, ele sabia da minha existência, eu não me sentia
invisível pela primeira vez na vida, e o melhor, não me sentia invisível para a
pessoa pela qual estava perdidamente apaixonado.