No dia seguinte a festa acordei sem
saber exatamente onde estava, levei alguns longos minutos para me dar conta de
que era meu próprio apartamento, tentei levantar três ou quatro vezes, mas a
preguiça misturada com ressaca insistia em me fazer deitar novamente, me rendi
e peguei o celular para pelo menos tentar me localizar em meio a tudo que
aconteceu na noite passada. Ao ver a tela ainda bloqueada há apenas algumas
notificações de redes sociais distintas (Provavelmente das fotos da festa, as
quais eu não me lembro com clareza em ter tirado). Nem cheguei a abrir as notificações,
deixei o celular de lado, tomei coragem e levantei, a dor de cabeça começou de
leve, segui direto para o banho para tentar de alguma maneira acordar, no
sentido literal da palavra.
Já de banho tomado vou até a
cozinha, no relógio da parede vejo que já passam das duas horas da tarde, faço
um café propositalmente forte demais, claramente eu precisava de um, com a
xícara em mãos vou me lembrando aos poucos da festa, dou algumas risadas
sozinho lembrando dos vexames que me vem à mente, até que – De forma inconsciente,
ou nem tanto – “a música” me vem à cabeça, lembro da melhor parte da festa e
agora cada uma das notificações deixadas pra depois me dão uma esperança de ser
o calouro, que até onde me lembro se chama Gabriel e sempre soube que queria
fazer arquitetura. Corro pegar o celular, abro notificação por notificação,
nenhuma delas é referente a ele “tudo bem” penso sozinho, foi uma festa, estávamos
bêbados, talvez ele nem lembre da minha existência.
Termino o café, aproveito que estou
com celular na mão coloco o reprodutor
pra tocar no aleatório e a primeira música que toca é a que marcou a noite
passada, dou um sorriso bobo sozinho em casa, talvez fosse apenas uma coincidência,
ou seja um aviso dos astros, ou paranoia de um pisciano, seja qual fosse o
motivo enquanto a música tocava abri o facebook e “como quem não quer nada”
mandei um ‘oi’ para ele, que fez a festa toda valer a pena, fiquei alguns
minutos olhando para o chat esperando ele responder, confesso que fiquei um
pouco frustrado ao não receber uma resposta imediata. Mas logo parei de bobagem,
fecho o facebbok e vou estudar, afinal a festa havia acabado, mas eu ainda não estava
formado, nem perto disso. Estou em meio a um artigo quando ouço o celular me
avisando de uma nova mensagem ou notificação, largo o artigo pela metade mesmo
e vou atrás do celular, o sorriso se forma em meu rosto de forma lenta, gradual
e involuntária. Era ele, a tela bloqueada apenas me mostrava “Nova mensagem de
Gabriel”, eu nem sabia o que ele havia mandado, mas já estava feliz.
Desbloqueio o celular e abro a mensagem, um ‘oi J’ (pode não parecer nada, mas quando se tem a
personalidade que eu tenho esse oi era quase um pedido de casamento para daqui
uns anos). Começamos a conversar, relembrando a noite passada – Ou melhor, ele
me lembrando o que eu não conseguia lembrar sozinho – Rimos de algumas coisas
até tocarmos no assunto que era o único que realmente interessava para ambos.
Ele disse que pensou no nosso beijo até pegar no sono, infelizmente não pude
dizer o mesmo, pois mal lembrava como tinha chegado em casa. Entre mais alguns
assuntos ele me convida para um café, combinamos o horário e ele sai.
Marcamos para perto das sete horas,
agora era passado das cinco, começo a me arrumar, o café era próximo ao prédio
onde eu morava, então não precisaria do carro, muito menos de um taxi, afinal tomaríamos
café. Cheguei alguns minutos adiantado, muito provavelmente devido a ansiedade.
Dou uma olhada no celular, respondo algumas mensagens aleatórias até que
consigo ver ele chegando. Naquele momento gostaria de parar o tempo para poder
olhar para ele por mais tempo sem parecer obcecado. Ele parecia pouca coisa
mais alto que eu, seu cabelo em um bagunçado perfeitamente organizado, parecia
que ele havia passado horas em frente ao espelho para deixar o cabelo daquela
forma. Seus olhos, castanhos, pareciam penetrar a alma de quem ele olhasse.
Enquanto ele se aproximava um nervosismo bobo ia se desenvolvendo em mim. E
quando ele chega noto que ele está tão tímido quanto eu. Começamos a conversar,
parecíamos atores, agora apresentando o que foi ensaiado mais cedo por
mensagens, pois os assuntos foram praticamente os mesmos, entre a conversa
nosso café chega. Continuamos a “re-relembrar” a festa. Até que finalmente,
pela segunda vez no dia, chegamos na parte em que a música certa toca. Agora
fazendo charminho (muito besta diga-se de passagem) pergunto para ele:
-
Então quer dizer que você ficou pensando em nós até dormir?
Ele
fica vermelho na hora, consigo ver na expressão dele que queria ficar
invisível, ou sair correndo.
-
Então... não tinha como não ficar, não é mesmo?
- Para
falar a verdade eu não tenho muitas recordações da noite passada.
Ele dá
uma risada meio envergonhada e rouba a minha cantada:
-
Temos que relembrar os melhores momentos então...
Dou um
sorriso sem graça, afinal ele foi mais rápido
-
Temos mesmo, mas dessa vez sem álcool, quero lembrar de cada detalhe...
E
assim, começava o que poderia se tornar uma história linda, ou mais um
relacionamento passageiro. Cabe ao tempo decidir.