Em uma tarde chuvosa de
outono, estava em casa, sem absolutamente nada para fazer, olhava para a
estante abarrotada de livros, todos já lidos, não tinha uma frase que não
conhecesse da singela coleção de livros. Decidi que iria sair, peguei o carro e
fui, para onde? Nem eu sei, apenas dirigi, sem um rumo certo, sem um destino.
Pensei várias vezes em cidades próximas nas quais poderia chegar e conhecer,
mas continuei dirigindo, quando me dei conta havia escurecido, e eu estava
ali... no meio do nada absoluto.
Estacionei, desci do carro e
para minha surpresa estava a beira de um abismo natural, a vista era
melancolicamente linda, haviam muitas árvores, mas estavam tão longe que
pareciam brócolis um ao lado do outro, me encantei com o fato de algo ser tão
imponente e vistoso, mas tão frágil ao mesmo tempo, e em meio a essa reflexão,
vi que eu tinha muito em comum com essas árvores, aos olhos das outras pessoas,
sou uma pessoa bem resolvida e sem problema algum, mas se me analisar bem, verá
que sou mais frágil do que pareço e tenho mais problemas do que mostro.
Voltei para o carro e segui
viagem, ainda sem rumo apenas continuei, o dia amanheceu e eu praticamente
dirigindo no piloto automático encontro uma pousada, volto a estacionar e peço
um quarto, a recepcionista era linda, tinha os olhos negros que ficaram
marcados na minha memória para sempre, seu cabelo era curto, na altura dos
ombros, talvez um pouco menos, ruivos, pareciam em chamas, peguei a chave do
quarto e ela me guiou até o mesmo.
Chegando no quarto a
recepcionista pergunta se preciso de mais alguma coisa, eu já acabado pelo sono
peço uma xícara de café acompanhada do nome de tão linda moça, ela sorri, ao
sair diz que vai providenciar o café e se despede com um “até logo”. Adoro “até
logos” me dão a certeza de que verei a pessoa novamente. Antes mesmo do café
chegar eu pego no sono, ao acordar olho pela janela e vejo que já é final de
tarde. Levanto, e desço até a recepção, para minha tristeza quem está lá não é
mais a moça dos cabelos flamejantes, mas sim um homem, aparentava ter 40 anos,
cabelos começando a embranquecer. Peço a conta, pago e volto para o carro.
Na viagem de volta várias vezes
o olhar da recepcionista me veio à mente e fiquei me perguntando, será que a
veria novamente? Quem sabe, em uma próxima parada da vida.